A população de Bairro  

            Não se sabe exactamente há quanto tempo o território que hoje constitui a freguesia de Bairro regista a presença humana, mas sabe-se que pelo menos desde a Idade do Bronze (1300 a.C. a 700 a.C.) terá existido aqui um pequeno povoado. Os achados arqueológicos da Quinta da Bouça são prova disso sem margem para dúvidas. Não se sabe se antes estas terras foram lugar de passagem de tribos nómadas, nem se depois existiram aqui povoados castrejos, como alguns sustentam, visto não terem sido encontrados vestígios que o comprovem e, por isso, não é prudente afirmá-lo e menos ainda indicar o número dos que terão vivido ou passado por aqui em épocas tão recuadas.

   O que sabe com toda a certeza é que no século XI havia no território que hoje constitui a freguesia de Bairro quatro paróquias, que presumimos com uma população diminuta, como era vulgar nessa época. O Censual do Bispo D. Pedro, também conhecido por Censual de entre Lima e Ave, é o primeiro documento que nos fala de Bairro e das outras três paróquias que aqui existiam. Em conjunto essas quatro paróquias não deviam ter muito mais que cem pessoas, embora não seja conhecida nenhuma contagem da população efectuada nessa época. De facto, em Portugal, a primeira contagem de casais apenas viria a ser feita  no reinado de D. João III, o chamado Numeramento de 1527-1531, e os dados para o Entre Douro e Minho, região em que se inserem as freguesias de Bairro e Sanfins, dizem respeito ao ano de 1531.

   Antes, nas Inquirições de 1220 e 1258, faz-se referência aos casais existentes em cada uma das freguesias. A partir dessa informação é possível ter uma ideia relativamente à população. Em «O Bispo D. Pedro e a organização da Arquidiocese de Braga» o historiador Pe. Avelino Jesus Costa a partir do texto das Inquirições de 1258 fez a contagem dos casais existentes em Bairro e Sanfins e também indica os que constam do Numeramento de 1527-1531, o que reproduzimos a seguir:


Casais de Bairro e Sanfins em 1258 e 1531

Freguesias

Ano de 1258

Ano de 1531

Bairro

14

16

Sanfins

17

26

 

   Se considerarmos que em média um fogo corresponde a cerca de 4 habitantes - ainda que o termo fogo não seja o equivalente exacto de casal - podemos concluir que a população em Bairro e em Sanfins em 1258 e em 1531 seria aproximadamente a seguinte:


Estimativa da população de Bairro e Sanfins em 1258 e 1531

Freguesias

Ano de 1258

Ano de 1531

Bairro

56

64

Sanfins

68

104

Total

124

                  168                 

     Depois de 1531, só voltamos a ter informação sobre a população de Bairro e Sanfins pelas Memórias Paroquiais de 1758. Bairro tinha 199 habitantes e Sanfins 108. Então, entre 1258 e 1531, Bairro ultrapassou Sanfins em número de habitantes, embora o pároco de Bairro tenha considerado na contagem os ausentes.

     De seguida, vamos apresentar um quadro com dados estatísticos relativos à população de Bairro a partir de 1258. Alguns dos elementos do quadro foram obtidos por estimativa no que respeita ao anos de 1258 e 1531, da forma que já foi explicada e, por isso, não são completamente fiáveis. Os dados respeitantes ao ano de 1758 obtidos a partir das Memórias Paroquiais desse ano, já transcritas neste site, são dignos de todo o crédito. As informações estatísticas dos restantes anos foram recolhidas a partir dos censos da população realizados e publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, são obviamente credíveis. Os dados relativos a 2030 e 2050 são meras projecções no suposto de que a taxa de crescimento negativo registada entre 2011 e 2021 se manterá.

 
População de Bairro a partir de 1258 (1)
Anos Bairro Sanfins Total (2) Acréscimo (3) Taxa anual média (4) Observações
1258 56 68 124 - - Estimativa
1531 64 104 168 44 0,11 % Estimativa
1758 199 108 307 139 0,27 %  
1836     582 275 0,82 %  
1864     594 12 0,04 %  
1879     637 43 0,47 %  
1890     686 49 0,67 %  
1900     958 272 3,40 %  
1911     972 14 0,13 %  
1920     1016 44 0,49 %  
1930     1346 330 2,86 %  
1940     2157 817 4,83 %  
1950     2704 547 2,29 %  
1960     3134 430 1,49 %  
1970     3161 27 0,09 %  
1981     3620 459 1,24 %  
1991     3650 30 0,08 %  
2001     3803 153 0,41 %  
2011     3598 -205 - 0,55 %  
2021     3200 -398 -1,16 %  
2050     2278 -922 - 1,16 % Projecção (5)

 
 
 

  Analisando a evolução da população da freguesia de Bairro, vemos que acusa sempre uma tendência de crescimento, exceptuando as década terminadas em 2011 e 2021, em que houve um decréscimo da população. Entre 1960 e 1970, a população de Bairro teve um acréscimo muito modesto, o que ficou a dever-se à forte emigração e às guerras coloniais, o que afectou significativamente o número de residentes. Já entre 1930 e 1940, a população de Bairro teve um acréscimo de 817 pessoas, o que significa que cresceu à taxa anual média de cerca de 4,83 % ao ano. No período seguinte, entre 1940 e 1950, o acréscimo da população foi de 547 pessoas, o que representa uma taxa de crescimento médio anual de cerca de 2,29 %.

   Tão altas taxas de crescimento da população não se explicam apenas pelos movimentos naturais da população, isto é, pela natalidade e mortalidade. Explicam-se principalmente pelo grande desenvolvimento económico da freguesia nos períodos referidos. Nos finais do século XIX foi construída a linha férrea que ligou o Porto a Guimarães, depois estendida a Fafe e, no início do século XX, começaram a instalar-se em Bairro importantes unidades de produção da indústria têxtil. Logo a seguir, em 1929, também se instalou em Bairro uma importante unidade de produção de energia eléctrica. Era precisa gente para que essas empresas pudessem laborar. Como a população de Bairro não era suficiente, vieram pessoas de outros lugares, das freguesias vizinhas e até de lugares bem distantes. Muitas dessas pessoas passaram a viver aqui e aqui acabaram por nascer os seus filhos e netos.

   Obviamente que este afluxo era constituído maioritariamente por gente jovem e, por isso, a natalidade também terá sofrido um importante incremento assim como as taxas de mortalidade terão diminuido. Todos estes factores se conjugaram para o espectacular crescimento da população de Bairro entre os finais do século XIX e meados do século XX. A partir daí a população continuou a crescer, mas a um ritmo muito mais moderado, acabando por decrescer a partir do início do século XXI, o que é muito preocupante. (5)

Notas:

(1) - Os números indicados para 2030 e 2050 são obviamente meras projecções no suposto de que a taxa de crescimento negativo observada no período de 2011 a 2021 se manterá até 2050.
 
(2) - Inclui a população de Sanfins.
 

(3) - Variação dos efectivos populacionais em relação à contagem anterior. Seria um indicador interessante se o número de anos entre contagens fosse sempre o mesmo. Como são muito diferentes, as comparações entre os diversos períodos fica prejudicada.

(4) - Taxa de variação anual média da população em relação à contagem anterior. Para calcular esta taxa podemos socorrer-nos da equação seguinte:

 

P i (1 + r) f-i = P f

 

em que P i e P f representam, respectivamente, a população nos anos de início e de final do período considerado, r representa a taxa de crescimento anual médio durante o período, f e i representam, respectivamente, o ano final e inicial do período, pelo que a sua diferença representa o número de anos decorrido entre o início e o fim do período.

   Esta equação é tecnicamente adequada para o fim a que se destina, sendo frequentemente utilizada em estudos da população, mas também sobre o crescimento do PIB, do investimento, do nível de preços, das exportações e outros.

   Vejamos como pode ser utilizada. A título de exemplo vamos calcular a taxa média de crescimento anual da população de Bairro em relação ao período de 1940 a 1950. Substituindo na equação apresentada pelos valores de que dispomos, fica:

2157 (1 + r) 1950-1940 = 2704

ou ainda:

2157 (1 + r) 10 = 2704

donde

(1 + r) 10 = 2704  : 2157

(1 + r) 10 = 1,2535929

    Chegamos a uma equação que se pode resolver por aplicação de logaritmos:

 

log (1 + r) 10 = log 1,2535929

 

que pode tomar a forma seguinte, tendo em conta que o logaritmo de uma potência é igual ao produto do expoente pelo logaritmo da base:
 
10 log (1 + r) = log 1,2535929

Chegados aqui, podemos utilizar tábuas de logaritmos ou uma calculadora científica. Depois do advento das calculadoras é obviamente muito mais cómodo usá-las. Verificamos que log 1,2535929 = 0,098156523. Então,

 

10 log (1 + r) = 0,098156523, donde se tira que

 

log (1 + r) = 0,0098156523

 

    Quer dizer, conhecemos o logaritmo de (1 + r) e queremos saber a que número corresponde  esse logaritmo, que é uma questão inversa da que se colocava antes, ou seja, temos que calcular o antilogaritmo. As calculadoras científicas também nos dão esse valor. Assim,

antilog 0,0098156523 = 1,022858721, ou seja:

1 + r = 1,022858721, donde

r = 0,022858721 = 2,2858721 %.

    Fazendo o arredondamento, teríamos como taxa de crescimento médio anual de 2,29 % entre 1940 e 1950.
 
(5) - Servindo-nos da equação atrás apresentada, podemos fazer uma estimativa da população de Bairro, por exemplo em 2030 ou 2050, supondo que taxa de crescimento negativo (- 1,16 %) verificada entre 2011 e 2021 se mantém,
P i (1 + r) f-i = P f
 

P 2021  (1 - 0,011654) 2030-2021 = P 2030

 

3200  (0,98834571...) 9 = P 2030

 

P2030 = 3200 x 0,89987...= 2879

 

De modo semelhante para 2050:

P 2050 = 3200 x 0,98834571.. 29

 

P 2050 = 2278

   Quer dizer: mantendo-se a taxa de crescimento negativa verificada entre 2011 e 2021, a população de Bairro passaria para cerca de 2879, em 2030, e para cerca de 2278, em 2050, ou seja o efectivo populacional passaria para valores semelhantes, respectivamente, aos dos anos 50 e 40 do século passado.