Bairro e Sanfins nas Memórias Paroquiais de 1758

     No século XVIII foram publicadas importantes obras como «A Corografia Portuguesa» de António Carvalho Costa e o «Dicionário Geográfico» do Pe. Luís Cardoso, cujas informações resultaram de inquéritos feitos junto das paróquias. De facto, D. João V promoveu através da Academia de História, fundada em 1720,  vários inquéritos para se obter informação que permitisse escrever a História Eclesiástica e Secular do Reino e Conquistas.  As «Memórias Paroquiais de 1758» inserem-se nessa tradição. Mas D. José e o Marquês de Pombal, seu primeiro-ministro, assumiram mais directamente a recolha e a centralização dos dados. Se no passado as respostas eram enviadas à Academia, as respostas ao inquérito de 1758 deviam ser dirigidas à Secretaria de Estado, o que revela o interesse do marquês pelo conteúdo das respostas.

     O Pe. Luís Cardoso foi incumbido da elaboração das perguntas para o inquérito de 1758, mas faleceu sem coligir os dados obtidos e concretizar o seu projecto de publicar a História Geográfica de Portugal, que há muito tinha em mente. O inquérito dividia-se em três partes e tinha 60 perguntas que deviam ser respondidas por escrito e em letra bem legível. Pretendia-se recolher informações relativas à geografia física, espacial, económica e política da terra, também obter elementos quanto à administração religiosa e civil, à população, aos equipamentos e aos recursos. Também informações sobre História, designadamente sobre personalidades e outras questões afins. Para além da recolha de informações demográficas, sociais, económicas e geográficas, o inquérito também pretendia conhecer as serras, os rios, regatos e ribeiros. 

     De seguida, vamos apresentar os textos escritos pelos párocos de Bairro e Sanfins em resposta ao inquérito. Serão reproduzidos tão fielmente quanto possível, embora com actualização da grafia, salvo alguns - muito poucos - casos em que julgou interessante mantê-la como nos manuscritos originais, que se encontram na Torre do Tombo, disponíveis para consulta via internet. Seguiremos de perto o texto do livro «Vila Nova de Famalicão nas Memórias Paroquiais de 1758», de José Viriato Capela e António Joaquim Pinto da Silva, edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, cuja leitura recomendamos a quem pretenda obter informação sobre outras freguesias do concelho. Mas também teremos em conta os apontamentos de Vasco César de Carvalho sobre este mesmo tema, que se encontram disponíveis na Biblioteca Municipal de Famalicão.

 

Freguesia de Bairro

     Fica na Província do Minho, termo de Barcelos, comarca e Arcebispado de Braga e também comarca de Viana.

     Pertence à Sereníssima Casa de Bragança.

     Tem cinquenta e um vizinhos, tem pessoas de sacramento cento e cinquenta e três e menores e ausentes quarenta e seis. 

     Está situada num vale plano.

     É termo da vila de Barcelos.

     Está a paróquia situada no meio da freguesia. Tem onze lugares pequenos, a saber: o lugar do Assento (1), Pousada, Caparim, Outeirinho (2), Regalo, Matamá , Pinheiro, Transfontão, Monte, Bairro (3) e Vila Verde.

     O orago da freguesia é S. Pedro. Tem a igreja três altares, o maior é o de S. Pedro, os colaterais, o da parte direita é de Nossa Senhora do Rosário e o da esquerda de Nossa Senhora das Candeias e S. Sebastião.

     O pároco é abade de colação ordinária e tem de renda quinhentos mil reis.

     Os frutos que os moradores colhem em maior abundância é milho grosso, ou milham (sic), centeio e milho alvo, vinho verde, feijão branco, preto e miúdo, algum azeite, painço e trigo. (4)

     Tem juíz de vara branca ou juíz de fora, ouvidor e juíz dos órfãos e câmara tudo na vila de Barcelos a que estão sujeitos.

     É termo de Barcelos como ficou dito.

     Não tem correio, mas umas (vezes) se serve do de Vila Nova de Famalicão que dista uma légua, outras (vezes) do da vila de Guimarães que dista duas léguas e em ambas chega ao Domingo e se tiram as cartas à Segunda-feira.

     Dista da cidade capital do Arcebispado três léguas e da de Lisboa cinquenta e cinco, alguns dizem sessenta.

     Não tem serra, mas o distrito desta freguesia compreende parte do monte de Cerqueda e parte do monte de Lagoços (5) e parte do monte de Lages que só produzem algumas árvores e matos para a cultura das terras e estrumes delas e são planos.

     E nos ditos montes se criam alguns coelhos, lebres e perdizes.

     Passa por esta freguesia o rio Ave que a divide da freguesia de S. Miguel das Aves que tem o seu princípio ao pé de Barroso entre o lugar Anjos e Barroso.

     Nasce em pouca quantidade e se vão ajuntando ribeiros, que nesta freguesia corre todo o ano.

     Entram nele imensidade de ribeiros e regatos, como é o regato de Selho, daqui uma légua, o de Landim, o de Vila Nova, o de Louro e rios somente entra nele o de Vizela pela parte Sul onde demarca a freguesia de S. Lourenço de Romão e S. Tiago de Rebordões e da parte do Norte Santo Estêvão Fins de Riva d'Ave.

     Não é navegável.

     É nesta freguesia arrebatado pelas muitas fragas por onde passa.

     Corre de Nascente para Poente.

     Cria bastantes peixes, a saber, bogas, escalos, barbos, trutas e enguias grandes e a maior abundância  que tem é de bogas, barbos, salmões e lampreias.

     Nele se fazem pescarias de baridas (sic) no Verão e também no mês de Maio se pesca toda a casta de peixes  acima ditos a saber bogas, escalos, trutas, lampreias, sáveis cada uns nas suas pesqueiras para o que tem vários açudes e também se pescam com chumbeiras, anzol e fisga.

     A maior parte das suas margens se cultivam e tem várias árvores de fruto e sem ele.

     Conservando sempre o seu nome de rio Ave desde o seu nascimento vai-se meter no mar em Vila do Conde e não consta que em tempo algum tivesse outro nome.

     E morre no mar em Vila do Conde como acima digo.

     No distrito desta freguesia tem muitas fragas de pedra que o fazem arrebatado e o seria muito mais se não tivesse muitos açudes de moinhos e azenhas, que estas são duas e os moinhos são dezassete em seis levadas ou açudes, os quais só moem no tempo de Verão.

     E no distrito desta freguesia tem somente uma barca (6) que serve para passar gente e toda a casta de animais, mas no decurso dele tem a ponte d'Ave que dista daqui três léguas e a da Lagoncinha que dista uma, a Ponte Nova que dista meia, a ponte de Servas que dista uma légua e a ponte de S. João que dista duas, a ponte de S. Bento Donim que dista três léguas e a ponte Domingos Terres que dista cinco léguas. A saber a do Ave defronte do convento de Vairão estrada de Barcelos para o Porto, a ponte nova na estrada de Barcelos para Arrifana do Sousa, a de Servas na estrada de Guimarães para Vila do Conde, a de S. João na estrada de Braga para Guimarães, a de S. Bento na estrada da Póvoa de Lanhoso para Guimarães, a de Domingos Terres na estrada de Braga para Basto. Tem mais a barca ao pé da Senhora do Porto do Ave, o barco da Taipa ao pé de Vila Nova de Sande, o barco do Nuno na dita freguesia, o barco do Porto junto a Santo Tirso na freguesia da Lama, a barca de Santo Tirso ao pé do convento assim chamado, a barca da Trofa na freguesia de Ribeirão, a barca de Chaves que mais abaixo na estrada que também vai de Barcelos para o Porto.

     Tem os moinhos acima ditos e vários engenhos de tirar peixes.

     Não se tiram dele águas para regar nem limar por ser fundo , só se tiram na Senhora do Porto de Ave e em Vila Nova de Sande, mas sem pensam (sic) e livres.

     Tem o dito rio desde o seu nascimento até se meter no mar quinze léguas.

     E na sobredita forma tenho dado fim a esta diligência que remeto na forma da ordem com os interrogatórios que em meu poder ficaram e vai assinda por mim e pelo reverendo pároco da freguesia de S. Fins de Riva do Ave e o reverendo abade de S. Tiago da Carreira meus vizinhos. O que fiz na forma da ordem supra e por moléstia do reverendo doutor José Ferreira Rosa abade desta freguesia eu o padre Custódio Rodrigues cura desta igreja que fiz e assinei.

     S. Pedro de Bairro, 28 de Maio de 1758 anos.

     O cura, padre Custódio Rodrigues

     O pároco da freguesia vizinha de S. Tiago da Carreira, o abade Francisco Álvares Martins

 

Freguesia de Sanfins

     Em cumprimento da ordem e interrogatórios juntos que com ela me foram apresentados, por parte do Muito Reverendo Senhor Doutor Francisco Fernandes Coelho, desembargador, provisor e vigário geral da corte e Arcebispado de Braga eu o padre Diogo Ferreira da Costa pároco da paroquial igreja de Santo Estêvão de S. Fins de Riba do Ave termo de Barcelos do dito Arcebispado, respondendo aos ditos interrogatórios nesta inclusos fiz a diligência na forma e maneira seguinte:

     Fica esta freguesia na Provìncia de Entre Douro e Minho, Arcebispado de Braga, comarca de Viana, termo de Barcelos.

     É da Sereníssima Casa de Bragança.

     Tem trinta e cinco vizinhos, pessoas maiores noventa e seis e pessoas menores doze. (7)

     Está situada em uma campina e dela se descobrem as freguesias de S. Miguel das Aves, S. Lourenço de Romão, S. Tomé de Negrelos, S. Tiago de Rebordões, S. Tiago de Burgães, S. Pedro de Bairro, S. Tiago da Carreira, S. Simão de Novais e o Salvador de Delães e terá de distância uma légua.

     Não tem termo seu pois pertence ao termo de Barcelos já declarado no primeiro interrogatório.

     Está esta igreja ou paróquia no meio do principal lugar desta freguesia e se chama S. Fins de Riba do Ave. E tem mais as aldeias seguintes: aldeia de Matamá, aldeia do Olival, aldeia do Barreiro, aldeia de Pereira e aldeia da Casa Nova. (8)

     É seu orago Santo Estêvão. Tem a igreja dois altares, o altar-mor de Santo Estêvão e um colateral de S. Sebastião. Não tem naves, nem irmandades algumas.

     É o pároco desta igreja um cura anual, que poderá ter de renda em cada ano trinta e oito mil reis. E é apresentação do reverendíssimo padre prior do convento reformado de Santo Agostinho chamado Santa Maria do couto de Landim.

     Não tem beneficiados alguns.

     Não tem conventos alguns de religiosos, nem de religiosas.

     Não tem hospital algum.

     Não tem casa de misericórdia.

     Não tem ermida alguma, nem romagem.

     Está respondido no interrogatório supra.

     A maior quantidade de frutos que se recolhem são pão e vinho, a saber o pão é milham (sic), centeio, milho alvo, painço e alguns moradores dos principais muito pequena quantidade de trigo; o vinho é todo verde, chamado de enforcado; também se produzem frutas de várias castas como melões, melancias, abóbaras, pepinos, pêras, pêssegos, maçâs, laranjas e hortaliças, posto que em pouca quantidade por ser o centro de qualidade fria. (9)

     Não tem juíz ordinário, mas sim um juíz chamado de Subsino, como há em todas as freguesias para governar o povo delas. E tudo isto sujeito ao juíz de fora e ouvidor da vila de Barcelos.

     Não é couto nem cabeça de concelho, nem honra, nem beretria. 

     Há nesta freguesia uma Quinta chamada de Pereira (10) da qual dizem fora senhor antigamente D. Nuno Álvares Pereira, varão insigne nas Armas e que dentro dela não se prendia antigamente. E hoje a possui Gaspar Leite fidalgo da vila de Guimarães, Mestre de Campo e seu filho, Joaquim Leite, tenete no regimento do Porto.

     Não tem feira alguma.

     Não tem correio e se costuma servir do correio de Guimarães que dista desta freguesia duas léguas e também do correio de Vila Nova de Famalicão, que dista uma légua; e costuma este partir na Sexta-feira e recolher-se no Domingo.

     Dista três léguas grandes da cidade de Braga, capital do Arcebispado, para a parte Sul dista da cidade de Lisboa, capital do Reino, sessenta léguas conforme a comum opinião.

     Não tem privilégios alguns, nem antiguidades dignas de memória, mais que as relatadas.

     Há nela uma fonte pública de cuja água se aproveitam os moradores da freguesia no principal lugar chamado S. Fins e há nos outros lugares ou aldeias algumas fontes particulares e não há lagoas.

     Não é porto de mar.

     Não é terra murada, nem consta o fosse em tempo algum.

     Não padeceu ruina alguma no Terramoto de 1755 pela bondade de Deus.

     Não há coisa alguma mais digna de memória de que possa fazer menção.

     Não há nesta freguesia serra alguma, mas sim um monte plano chamado de Lagoços (11), que tem carvalhos de lenhas e matos que servem para os pastos dos gados e estrumes das terras dos quais se aproveitam os lavradores cada um na sua divisão, porém são públicos para os animais e serventias dos povos. E não há mais caça  do que lebres, coelhos e perdizes.

     Chama-se o rio que passa por esta freguesia o Ave e nasce de uma fonte, cujo nome ignoro no território de Basto.

     Nasce com pequena corrente, porém corre todo o ano, ainda que no Verão com pouca quantidade de água.

     Entra neste rio abaixo da ponte de Servas um pequeno regato chamado de Selho e entra nele outro rio quase igual no distrito desta freguesia chamado o rio Vizela e chama-se o sítio onde se recolhe a ele, Entre Ambos os Rios. Entra nele outro rio mais pequeno chamado de Pele e se recolhe a ele no sítio chamado Palmeira. E tem este o seu princípio na serra da Curbião dista da cidade de Braga para o Sul pouco mais de uma légua e o chamado Vizela  tem princípio na ribeira de Vizela donde toma o nome, que dista daqui duas léguas e meia. Entra no Ave outro rio chamado rio Louro, que tem princípio na Veiga de Penso e se recolhe a ele no sítio chamado a Vergadela, distante do mar pouco mais de duas léguas e o seu nascimento dista de Braga uma légua. Entra no Ave outro rio chamado rio Este, que tem tem o seu nascimento no vale de Este, junto ao Bom Jesus do Monte distante da cidade de Braga uma grande légua e fazendo sua carreira por junto da dita cidade se recolhe e morre no Ave abaixo da ponte d'Este distante de Vila do Conde uma légua e poderá ter de comprido cinco léguas. Alguns regatos pequenos se recolhem a ele, mas de pouca entidade e sem nome.

     Não é navegável e só é frequentado de pescadores em Vila do Conde e de algumas caravelas de sal, que somente o navegam pela barra dentro pouco mais de um quarto de légua.

     É de curso alguma coisa arrebatado principalmente na maior parte do ano.

     Corre de Nascente para Poente.

     Cria muita quantidade de peixes e a maior abundância são barbos, bogas e escalos. Algumas trutas, lampreias e raras vezes se tira um salmão. (12)

     Todo o ano se pesca nele, porém no Verão em mais abundância.

     Quaisquer pessoas pescam e caçam nele, porém tem muitas e várias pesqueiras e engenhos de tirar peixes, de muitas pessoas particulares, em alguns sítios dele.

     As suas margens em muitas partes se cultivam e se fabricam nelas pão, vinho e outros frutos, ainda que nos limites desta freguesia têm as margens do rio várias árvores , que possuem seus donos em suas demarcações e divisões e são árvores silvestres.

     A virtude que tem as suas águas não é outra mais do que aproveitarem-se algumas pessoas de banhos no mesmo rio, em alguns sítios dele.

     Sempre conserva o mesmo nome, até ao mar em Vila do Conde aonde acaba depois de metido no mesmo mar.

     Está respondido no interrogatório supra.

     Tem várias levadas ou açudes, que lhe embaraçam o ser navegável.

     Tem algumas pontes de pedra, a saber a ponte de Servas, a ponte Nova, a ponte da Lagoncinha e a ponte de Ave. E nesta freguesia uma de pau (13), que se passa a maior parte do ano, que nas enchentes a tem levado algumas vezes o rio e se chama o sítio dela, os Saltos.

     Tem muitas propriedades de azenhas e moinhos. E no distrito desta freguesia uma de azenhas com os seus moinhos, que possui um lavrador chamado António Carneiro e outra de moinhos que possui a Quinta de Pereira, de que acima se faz menção. E tem algumas levadas com pesqueiras.

     Não sei que em tempo algum se tirasse das areias dele ouro algum.

     Em algumas partes se aproveitam os lavradores vizinhos de suas águas para a cultura dos campos por posses e costumes antigos, menos nesta freguesia por ficar mais alta em suas margens.

     Tem este rio quinze léguas, pouco mais ou menos, desde o seu nascimento até se meter no mar. E as maiores povoações por onde passa são o lugar de grande romagem de Nossa Senhora do Porto de Ave e o lugar da ponte de Servas e o convento e grande lugar de Santo Tirso e o convento e lugar de Vairão e a grande Vila do Conde., depois da qual se recolhe ao mar. E fica da outra parte e defronte desta vila , o grande e célebre lugar de Azurara cujas povoações divide o mesmo rio.

     Não há coisa alguma mais notável digna de memória. E há também neste rio umas poucas de barcas de passagem como são a barca da Trofa, a de Santo Tirso, que é dos religiosos beneditinos, a do Nuno que é dum Manuel Francisco da freguesia de S. Miguel das Aves muito antiga e lhe pagam por avença ou sem ela os que querem passar. E dizem que há outra junto à sobredita romagem de Nossa Senhora do Porto.

     E na sobredita forma tenho dado fim a esta diligência, que remeto na forma da ordem, com os interrogatórios que em meu poder ficaram. E vai assinada por mim e por dois párocos meus vizinhos, tudo na forma da mesma ordem.

     S. Fins de Riba de Ave, 22 de Maio de 1758

     O pároco de Santo Estêvão de S. Fins de Riba do Ave, o padre Diogo Ferreira da Costa.

     O padre Custódio Rodrigues, cura de S. Pedro de Bairro

     O pároco da freguesia vizinha de Santiago da Carreira, o abade Francisco Álvares Martins.

Notas:

  (1) - O lugar do Assento corresponde mais ou menos ao actual lugar da Igreja Velha.

  (2) - Vasco César de Carvalho fez uma recolha parcial de informação sobre as Memórias Paroquiais de 1758 respeitantes ao concelho de V. N. de Famalicão e ao referir-se aos lugares de Bairro aqui mencionou Peyteirinho. Por sua vez José Viriato Capela e António Joaquim Pinto da Silva indicam Ribeirinho. A palavra escrita no manuscrito original é de difícil leitura, mas não deve ser nem Ribeirinho nem Peyteirinho, mas antes Outeirinho.

  (3) - Existia - e ainda existe - um lugar com um nome igual ao da própria freguesia, mas não é mencionado o lugar da Bouça, talvez porque a quinta da Bouça ainda não existisse.

  (4) - Da lista de produtos da agricultura não se menciona a batata, nem em Bairro, nem em Sanfins, nem em qualquer outra freguesia de Famalicão. Isso significa que a cultura da batata, em 1758, ainda não era praticada nesta região. Obviamente que o seu consumo também ainda não se tinha iniciado.

  (5) - O monte de Lagoços pertencia tanto a Bairro como a Sanfins. Na altura ainda não era habitado. Tudo indica que fosse um baldio entre as duas freguesias, em que as pessoas podiam recolher lenha, caçar ou um lugar onde se podia, livremente, levar o gado a pastar, embora os lavradores já tivessem conseguido colocar divisões demarcando parcelas de terreno que não lhe pertenciam e de que se terão apropriado mais tarde.

  (6) - Não se indica a existência de qualquer ponte em Bairro, mas apenas uma barca de passagem pertencente a um indivíduo de S. Miguel das Aves, freguesia em que existe o lugar da Barca, certamente designação que alude a esse facto.

  (7) - Sanfins tinha em 1758, 108 pessoas e Bairro 199, incluindo os ausentes, ou seja, o território correspondente à actual freguesia de Bairro teria uma população de 307 pessoas e 86 fogos (51+35).

  (8) - Matamá é mencionada tanto como lugar de Bairro como de Sanfins. Certamente parte do lugar pertencia a uma freguesia e a outra parte à outra freguesia.  Repare-se que não é mencionada nenhuma aldeia de Pombal ou de Caniços, sinal de que esses lugares ainda não eram povoados. Aliás, pode dizer-se que da estrada até ao rio Ave não havia lugares povoados, talvez com excepção de Vila Verde e Monte. Recorde-se que a estrada que existia vinha da ponte de madeira no lugar de Saltos e, a partir de 1780, da ponte de Caniços, subia até à Quinta de Pereira pelo local onde foi construída a nova estação de Caniços, seguia na agora denominada Rua de D. Maria II, Travessa das Rampas, Avenida Joaquim Leite, Rua Irmãos Sampaio, Rua de S. Tiago, Rua de Vila Verde e Caminho Real. Aliás, todo o percurso que acabei de indicar era conhecido por Estrada ou Caminho Real, certamente em atenção ao facto de ser por ele que os reis geralmente seguiam quando passavam por Sanfins e Bairro, certamente com destino a Guimarães ou no regresso. 

  (9) - Como em Bairro, não se menciona o cultivo da batata.

(10) - A quinta de Pereira nunca pertenceu ao Condestável, como já explicámos noutro texto.

(11) - O lugar de Lagoços ficava entre as freguesias de Bairro e Sanfins. Era um baldio de que beneficiavam os moradores de ambas as freguesias.

(12) - Nessa época o rio era muito rico em peixe, que existia em maior quantidade e com maior variedade do que agora. Mais tarde, com a construção de pequenas barragens para aproveitamento da energia hídrica, tornou-se impossível que lampreias ou salmões pudessem subir o rio para virem desovar.

(13) - Suponho que a ponte de pau a que o texto se refere ficaria junto a uns moinhos que havia um pouco acima da actual ponte de Caniços. Do lado de Rebordões ainda existe a rampa que devia conduzir à referida ponte. Repare-se que não é mencionada a ponte da Pinguela, razão pela qual podemos concluir que ainda não existia ou era uma passagem rudimentar, perigosa e, por isso, tão  pouco utilizada que nem merecia referência. Em português arcaico, a palavra pinguela tinha o significado de armadilha para apanhar pássaros. Mais tarde a mesma palavra passou a designar uma passagem rudimentar de um rio com recurso a um tronco ou prancha que servia de ponte, talvez por lembrar essas armadilhas. Pode ter sido assim a ponte da Pinguela no seu início. Por alguma razão tomou este nome. Daí que a passagem para S. Miguel das Aves e S. Lourenço de Romão se fizesse preferencialmente pela barca do Nuno, como era conhecida, apesar do dono ter outro nome. Nuno devia ser o nome de um antigo barqueiro. Se não é certo que a Pinguela no seu início tenha sido uma passagem do rio improvisada e pouco segura, sabe-se que, em finais do século XIX e início do século XX, foi uma simples ponte de madeira como havia muitas outras em vários sítios. A minha avó ainda se lembrava de ser assim e abominava ter que passar lá, por a considerar muito perigosa. Foi já no século XX que se construiu a ponte da Pinguela tal como consta das fotos da nossa galeria. Muito mais tarde se construiu a actual ponte.