A família Pinheiro de Lacerda

     Luís Pinheiro de Lacerda, filho bastardo de Rui Pinheiro de Lacerda, senhor do Solar dos Pinheiros de Barcelos (1), nasceu em 1635, em Braga, de uma relação extraconjugal com uma mulher solteira natural dos arredores daquela cidade, por alcunha a "Candeeira", por andar com a mãe a vender candeias nas feiras e romarias. O seu nome era Madalena Francisca. Depois foi mulher de um carniceiro, que se estabeleceu no lugar do Carmo na estrada de Braga para Prado. O pai de Luís, Rui Pinheiro de Lacerda, o fez ordenar padre e sua irmã, D. Ana Pinheiro, o nomeou abade da Igreja do Cristelo, freguesia do concelho de Barcelos. Entrou na posse da Casa e Morgados desta família e os possuiu enquanto vivo, embora esta posse fosse contestada por Pedro Lopes de Azevedo, que era o imediato sucessor. Ainda antes de se tornar eclesiástico, teve filhos naturais de Isabel de Sousa, filha de Gaspar Gomes de Sousa e de sua mulher também Isabel de Sousa, da freguesia de Landim.

                                      Solar dos Pinheiros    

                                                        O solar dos Pinheiros, em Barcelos

     Clemente Pinheiro de Lacerda, filho de Luís Pinheiro de Lacerda, nasceu a 18.01.1664 no concelho de V. N. de Famalicão; sucedeu ao pai na posse do Morgado de Pouve, em S. Paio de Ceide, no Padroado do Cristelo e mais vínculos anexos à Casa dos Pinheiros, cuja sucessão lhe foi contestada por Leonardo Lopes de Azevedo a quem foi julgado pertencer por sentença do tribunal competente. Foi legitimado por D. Pedro II a instância de seu pai por carta de 15.09.1691 e pelo papa Inocêncio XII a 13.10.1691. Casou com D. Isabel Micaela de Carvalho de Freitas, filha de Francisco Dias de Pousada e de sua mulher Maria de Carvalho, de S. Pedro de Bairro, prima do Desembargador do Paço Jerónimo Vaz Vieira. A escritura do seu casamento, no ano de 1699, foi feita pelo tabelião José António Villas Boas, estabelecido em Landim. Curiosamente aparece como titular de prazos firmados com o Mosteiro de Landim localizados nessa freguesia e na Carreira, o que parece evidenciar que já encarava a sua actividade com alguma espírito empresarial, pouco comum na época em que viveu. Do seu casamento resultaram vários filhos: Luís (1700), Rodrigo (1703), João (1705), Antonieta (1706), Duarte (1707) e Guiomar (1708), embora Felgueiras Gayo assinale alguns como bastardos. Faleceu em Bairro em 27.01.1740.

     Rodrigo Pinheiro de Lacerda nasceu na Casa de Pouve, freguesia de Abade de Vermoim, a 07.07.1703, foi quem sucedeu ao pai como senhor da Casa de Pousada (Pousada de Baixo). Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e Familiar do Santo Ofício. Casou com Josefa Rosa Pinto de Azevedo, da freguesia de S. Pedro de Bairro, herdeira da Quinta de Pousada (Pousada de Cima), e desse casamento nasceram os filhos seguintes: Maria Antónia (1751), Rodrigo António (1753), Francisca Josefa (1754) e António José (1759). Felgueiras Gayo aponta ainda um bastardo, de nome Manuel Pinheiro, que terá estado no Brasil, donde terá voltado rico. Foi Rodrigo Pinheiro de Lacerda quem mandou construir o Solar da Quinta de Pousada e a ele respeita o brasão da mesma quinta, que no primeiro quadrante apresenta as armas de La Cerda, no segundo Pereira (senhores de Mazaferes), no terceiro Lobo e no quarto o timbre dos Pinheiros. Faleceu na Quinta de Pousada a 12.04.1784.

 

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                      Casa de Pousada               Quinta de Pousada        Brasão da Quinta de Pousada

     Rodrigo António Pinheiro de Lacerda nasceu a 18.04.1753 na Casa de Pousada e, depois da morte de seu pai, tornou-se senhor da Casa e Quinta que lhe tinham pertencido. Casou com Ana Joaquina Gomes da Fonseca, filha de Francisco Gomes, da freguesia de Santa Maria de Abade de Vermoim, lavrador e rendeiro rico e, segunda vez, com Custódia Maria Álvares Pereira. Do primeiro casamento nasceram Rodrigo (1787), Joaquina Cândida (1788), Maria Delfina (1790) e Joaquim (1793) e do segundo Vitorino (1806) e Balbina (1808). Como o pai, também foi Familiar do Santo Ofício. Faleceu a 20.03.1809 em Carvalho de Este, na altura em que as tropas de Napoleão, comandadas por Soult, tinham em curso a invasão de Portugal. Nesse dia, precisamente na povoação de Carvalho de Este, a pouco menos de 10 Km de Braga, uma força de cerca de 25 mil portugueses pretendeu travar o avanço do invasor, mas foi derrotada e as tropas francesas, em seguida, ocuparam Braga. Desconheço as circunstâncias da morte de Rodrigo António, mas é muito provável, quase certo, que tenha perecido nessa batalha em que, segundo alguns relatos, morreram mais de 1000 portugueses, embora Soult tenha referido cerca de 4000.

     Outro Rodrigo Pinheiro de Lacerda, nascido em 11.08.1787, filho de Rodrigo António Pinheiro de Lacerda e de Ana Joaquina Gomes da Fonseca, foi quem sucedeu ao pai como senhor da Quinta de Pousada. Casou com Clara Clementina Pinheiro de Lacerda e deste casamento nasceram os filhos seguintes: Rodrigo (1858), Júlia Sabina, Carolina Emília (1811), Joaquim (1813), Ermelinda e Albino. Foi Familiar do Santo Ofício, Monteiro-Mor de Soalhães e Monteiro-Mor de Serralhães. Faleceu em Bairro em 12.08.1819.

     Joaquim Pinheiro de Lacerda, nascido na Quinta de Pousada a 05.10.1813, foi quem sucedeu ao pai como senhor da dita quinta. Casou na Igreja de S. Martinho, em Cedofeita, em 07.02.1857 com Ana Rosa de Castro Gordon e Norton, nascida a 14.08.1840. Deste casamento resultaram os filhos seguintes: Clementina (1857), Rodrigo (1858), Tomás, Cândida, Júlia e Joaquim (1866). Faleceu em 1869.

     Este último, Joaquim Gordon Norton Pereira de Castro Pinheiro de Lacerda, nascido na Casa de Pousada a 14.10.1866, foi o sucessor do pai na propriedade da Quinta de Pousada. Casou em Lisboa a 30.07,1908 com Ernestina Augusta Leopoldina Nunes de Bastos Macedo, nascida a 18.12.1876. Foi notário em Arruda dos Vinhos. Foi ele que alienou a Quinta de Pousada e outros terrenos que lhe pertenciam a favor de A. J. da Silva Pereira.  Deixou descendência. Faleceu na Casa do Paço, em Arruda dos Vinhos a 12.08.1938.

     Voltando atrás, importa dizer que, quando Rodrigo António Pinheiro de Lacerda faleceu em 1809, deixou os dois filhos do segundo casamento ainda muito pequenos: Vitorino e Balbina. Do primeiro sabe-se que esteve matriculado na Universidade de Coimbra no ano lectivo de 1834-35, mas acabou por se ordenar padre. Balbina, nascida na Quinta de Pousada a 28.03.1808, casou com José Joaquim Carvalho, de Santa Maria de Oliveira, e, segundo uns, teve dois filhos: Albino Augusto e Vitorino. Há quem refira a existência de mais filhos deste casal, pelo menos mais um chamado Álvaro, que terá ido com Albino Augusto para o Brasil. Há quem diga que Vitorino também esteve no Brasil donde terá voltado mais tarde. Balbina Pinheiro de Lacerda faleceu no Lugar de Pousada a 22.01.1894 e esteve sepultada na campa número cinco da antiga igreja de Bairro.

     Albino Augusto Pinheiro de Lacerda, nasceu a 13.12.1830, no lugar de Pousada, em Bairro e, como já se disse, terá ido para o Brasil, estabelecendo-se na cidade de Cuiabá. Deixou descendência: um filho, Pedro Alexandrino Pinheiro de Lacerda, nascido em 1888, em Cuiabá, Brasil, que casou com Clélia Esteves.

     Deste casamento houve dois filhos: Luís Esteves Pinheiro de Lacerda e Ana de Lacerda, que casou com José Bugueta Britto de Barros. Deste casamento nasceu, em 25.03.1949, o Dr. António Pedro Lacerda de Barros (2), em Corumbá, Mato Grosso do Sul, Brasil. É advogado e tradutor no Rio de Janeiro, onde actualmente reside. É tetraneto de Rodrigo António Pinheiro de Lacerda, o que morreu a 20.03.1809, em Carvalho de Este, durante a segunda invasão francesa.

     Álvaro Augusto Pinheiro de Lacerda parece que no Brasil se assinava Álvaro Carvalho Pinheiro de Lacerda e terá sido o fundador da cidade de Patrocínio Paulista, em São Paulo, Brasil.

     Vitorino Carvalho Pinheiro de Lacerda, filho de Balbina, nasceu em Bairro a 27.03.1841 e casou com Maria José Araújo, nascida a 14.06.1857. Tiveram os filhos seguintes: Américo, Joaquim, António, Carlos, Sabino, Maria e José. Carlos, nascido a 01.10.1884 e falecido a 29.03.1949, ordenou-se padre e foi pároco da freguesia de Bairro.

     Joaquim Augusto Norton Carneiro de Lacerda é filho de Américo Carvalho Pinheiro de Lacerda e de Maria Guilhermina Norton Alves Carneiro e neto de Vitorino Carvalho Pinheiro de Lacerda. Casou com Maria Benedita Brites de Azevedo e Meneses Pinheiro Pereira de Bourbon, nascida no Porto a 20.07.1912 e falecida também no Porto a 28.07.2004. Deixaram descendência, duas filhas: Maria Guilhermina e Mariana Amélia.

     Orlando, Américo, Carlos e Armindo Veloso Pinheiro de Lacerda são filhos de José Carvalho Pinheiro de Lacerda, netos de Balbina.

     Neste curto relato já se referiu que vários descendentes de Luís Pinheiro de Lacerda  foram viver para outras terras e alguns emigraram para o Brasil, onde constituiram família e onde nasceram e cresceram seus filhos e netos. É, por isso, muito difícil fazer uma relação completa dos descendentes do Abade do Cristelo. Indicámos muitos deles das sete gerações seguintes, principalmente os que nasceram e/ou viveram na freguesia de Bairro, mas muitos mais ficaram por mencionar.

     Notas:

     (1) - No Boletim Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão - III Série, nº. 2 foi publicado um trabalho intitulado «Os Pinheiros de Barcelos em V. N. de Famalicão», da autoria de João Afonso Machado, em que se conta, entre outros assuntos, a história da Casa de Pousada. Recomendamos a leitura do referido boletim para quem queira aprofundar este tema e transcrevemos a seguir a parte respeitante à história da Casa de Pousada:  

     c) Casa de Pousada

     Atrás deixámos Rui Pinheiro de Lacerda e os seus descendentes e colaterais querelando pela posse do património fundiário dos Pinheiros. A sua geração ocorreu, pois, enquanto os tribunais mastigavam a decisão final que lhe seria desfavorável.
     Dele foi filho natural Luís Pinheiro de Lacerda que, igualmente sem casar, houve Clemente Pinheiro de Lacerda. Definitivamente perdida a causa forense, instalou-se este ramo na freguesia de S. Pedro de Bairro (agora integrada no concelho de V. N. de Famalicão) onde pontifica a Casa de Pousada, de que era Senhora D. Isabel Micaela de Carvalho de Freitas, com quem Clemente Pinheiro celebrou esponsais.
    Pousada conhecerá arquitecturas de maior pompa, plausivelmente, com o seu continuador Rodrigo Pinheiro de Lacerda, Cavaleiro do Hábito de Cristo. Navegamos já pelos meados do século XVIII e obras de então adornam o portão da entrada com o brazão esquartelado de Pinheiro, Lacerda, Pereira e Lobo – os apelidos preponderantes no ramo barcelense. E uma varanda ampla, entre pilastras que sustentam a cobertura, surge de olhar estendido para as várzeas de Bairro.
     De Rodrigo Pinheiro de Lacerda e de sua Mulher D. Josefa Rosa Pinto de Azevedo foi filho Rodrigo António Pinheiro de Lacerda que casou em primeiras nupcias com D. Ana Joaquina Correia d’Afonseca, de quem houve Rodrigo, Joaquim Felizardo e D. Maria Miquelina. E é nesta geração que perdemos o rasto de Pousada na posse dos Pinheiros. Questões de partilhas, o infortúnio dos seus donos, o desinteresse puro e simples? – está por averiguar. Mas a propriedade circula de mãos em mãos, durante décadas, sempre adquirida por estranhos à Família. Os seus arquivos, consta, arderam rotulados de lixo, em uma dessas muitas transmissões. E as obras com que ultimamente Pousada tem sido beneficiada, começaram pelo fim, quero dizer, trouxeram o maior esplendor aos seus anexos (a dependência do feitor, as antigas cortes do gado, os celeiros) mas esqueceram o edifício principal, agora confiado à guarda de bandos de pombas que no seu interior pacatamente se abrigam e nidificam.
     Todavia, do outro lado da estrada, quase defronte, remontando aos finais do século XVIII – MDCCIIC é a inscrição na coroa da entrada que o atesta – subsiste a “Pousada de Cima” (por contraposição à “de Baixo”, como se viu para os Pinheiros não mais do que uma recordação). Ficou aquela sempre em poder da sucessão de D. Balbina Pinheiro de Lacerda, a única filha do segundo matrimónio do sobremencionado Rodrigo António Pinheiro de Lacerda, com D. Custódia Maria Álvares. É actualmente seu proprietário Américo Veloso Pinheiro de Lacerda, filho de José de Carvalho Pinheiro de Lacerda e de D. Cândida Amélia Ferreira Veloso e neto paterno de Vitorino de Carvalho Pinheiro de Lacerda e de D. Maria José Machado de Araújo, sendo este último filho daquela D. Balbina e do seu marido José Joaquim de Carvalho.
     De uma arquitectura acentuadamente mais sóbria, ainda assim deixa-nos no olho os bonitos trabalhos de cantaria das suas janelas e varandins. E. sobretudo, a satisfação de continuar sendo uma marca genuína e presente dos Pinheiros de Barcelos em V. N. de Famalicão.
 
     (2) - O Dr. António Lacerda de Barros facultou-me abundante informação sobre a família a que pertence.