Uma explosão em Sanfins

     por Daniel Ribeiro da Costa Pereira

     Em «Portugal Antigo e Moderno», Pinho Leal conta um facto ocorrido em Santo Estêvão de Riba de Ave, a que povo sempre chamou Sanfins. Diz o seguinte: «Na noite de Sábado Aleluia (27 de Março de 1875) para Domingo de Páscoa, pela uma hora da madrugada, vários ranchos de rapazes davam com música e descantes as boas festas às portas dos seus amigos, lançando vários foguetes». Ouvi a minha avó muitas vezes dizer que no seu tempo de jovem se cantavam os reis até ao Sábado Aleluia. Era certamente disso que se tratava. «Um destes foguetes foi cair sobre uma rima de lenha que estava encostada à casa de Francisco Ribeiro, o qual tinha na mesma casa um grande depósito de pólvora em que negociava. Ribeiro, pressentindo o perigo, fugiu de casa com a sua família e, poucos momentos depois, uma estrondosa detonação aterrou toda a gente das imediações. A casa voou pelos ares, indo a pedra e os materiais da armação cair a grandes distâncias. Ficaram partidos e carbonizados uma mula e um porco. A casa vizinha foi também vítima das chamas. As portas de muitas casas abriram-se de par em par e foram despedaçados os vidros das janelas de quase toda a povoação. Apesar de não haver desgraças pessoais, este incêndio ainda é recordado com horror em toda a freguesia». 

    Apurei que Francisco Ribeiro,  meu trisavô pelo lado materno, que era comerciante e tinha uma bem movimentada venda de artigos de mercearia, também se dedicava ao comércio de pólvora e era, por esse motivo, indevidamente chamado de «Polveiro», pois a designação correcta deveria ser «Polvoreiro». 

     A casa em que estes factos ocorreram foi reconstruída e ainda hoje existe. Pertenceu mais tarde a Augusto Baptista e fica junto à estrada nacional, logo no início da agora denominada rua da Infância. Nessa casa, depois da implantação da república, funcionou a primeira escola pública da freguesia de Bairro até à construção por A. J. da Silva Pereira das escolas da Avenida. Era mestre-escola o professor Andrade, de Vermoim, aparentado com os Andrades de Bairro e com o próprio Augusto Baptista, também ele Andrade e da mesma família.