A Fundação do Convento de Landim
Alexandre Herculano, José Mattoso e outros historiadores dizem que o Mosteiro de Landim foi fundado em 991 ou antes; Frei Nicolau de Santa Maria, em «Crónica dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho», e outros autores dizem que foi fundado em 1096. Afinal, quem tem razão?
Para darmos uma resposta, devemos começar por procurar saber donde vem o termo Landim, que originariamente se dizia Nandim. Trata-se de um topónimo de origem germânica, como tantos outros que abundam na região, resultante, neste caso, da existência de um latifúndio, de uma vila Nandini, provavelmente de um suevo ou de um visigodo com esse nome, que se estendia pelas actuais freguesias de Landim, Areias e Lama. Num rol de paróquias de entre Lima e Ave do tempo do bispo de Braga D. Pedro, de cerca de 1085, eram assim designadas, respectivamente: Santa Maria de Nandim (Landim), Sancto Jacobi de Nandim (Areias) e Sancto Micahel de Nandim (Lama).
Tinha existência efectiva no ano de 991 um mosteiro em Sancto Jacobi de Nandim (S. Tiago de Landim, que depois se chamou Areias) e há documentos publicados por Alexandre Herculano em «Portugaliae Monumenta Historica» de uma doação ao dito mosteiro de Frei Ariúfo nesse ano e do presbítero Vermudo Bentes e de Acília de 1016, que atestam a sua existência. Entre 1016 e 1057, o mosteiro deve ter-se extinguido, visto que a partir daí deixa de ser mencionado.
Relativamente à localização desse mosteiro dentro da freguesia de Areias, parece que era na proximidade do lugar da Torre, onde terá existido um castro, transformado na Idade Média numa outra estrutura defensiva, uma torre, talvez na altura em que o rio Ave era a fronteira entre o mundo cristão e o mundo muçulmano. Diz o padre António Carvalho da Costa, em «Corografia Portuguesa» que «não sabemos que Solar fosse, mas de boa razão se deve entender haver sido do Infante Alboazar Ramires e seus descendentes». Essa torre terá depois pertencido aos Pereiras.
Depois da extinção do mosteiro, a paróquia ainda teve aí a sua igreja por algum tempo, mas foi mudada para o lugar de Arenas (Areias) entre 1085 e 1220, visto que nas Inquirições deste ano, ordenadas por D. Afonso II, já vem designada por S. Tiago de Areias
O mosteiro que se fundou em Santa Maria de Landim em 1096 não tem qualquer ligação com o que existiu em S. Tiago de Landim (Areias).
Segundo Frei Nicolau de Santa Maria na obra atrás citada foi fundado por Rodrigo Forjaz de Trastâmara, filho de D. Forjaz Vermuis, embora outros autores atribuam a fundação do mosteiro a seu filho D. Gonçalo Rodrigues de Palmeira ou a seu neto Gonçalo Gonçalves, mas penso que não têm razão, pelo simples facto de que o primeiro era ainda uma criança em 1096 e o segundo ainda nem tinha nascido. Também o padre António Carvalho da Costa, na obra atrás citada, diz que «do convento se acha notícia em 1096, está perto do rio Ave e o fundou e dotou amplamente D. Rodrigo Forjaz». D. Teresa concedeu-lhe carta de couto, em 1127. O Couto de Landim devia corresponder grosso modo à antiga vila Nandini, ou seja, do rio Pele ao Ave, englobando as actuais paróquias de Landim, Areias e Lama. Mais tarde, D. Gonçalo Rodrigues doou o seu Couto de Palmeira ao Mosteiro de Landim, doação que foi confirmada, em 1177, por seus filhos, incluindo Gonçalo Gonçalves, pelo que o Couto de Landim, para além das freguesias atrás mencionadas, se alargou a Sequeirô, Sanfins, S. Miguel de Seide, Santa Marinha de Seide, Bente e Palmeira, todas à volta do primitivo couto. Posteriormente, por doações, ainda se alargou mais.
Quem era Gonçalo Rodrigues de Palmeira? Chamou-se da Palmeira por ser senhor daquele Couto da Palmeira, nome de uma freguesia da Terra de Vermoim, agora do concelho de Santo Tirso, antepassado de D. Nuno Álvares Pereira, seu quinto avô, dizem os genealogistas. Aparece frequentemente na chancelaria de D. Teresa, de quem foi mordomo-mor e depois o seu tenente na Terra de Vermoim. Continuou a ser referido na chancelaria no tempo de D. Afonso Henriques, pelo menos até 1154, mantendo-se como tenente em Vermoim, e depois também em Refojos de Riba de Ave e em Penafiel de Bastuço.
Há algum tempo publiquei neste sítio um texto sobre a quinta de Pereira existente na freguesia de Bairro. Fui recentemente questionado por uma pessoa que pretendia fazer-me crer que a quinta de Pereira de Bairro nunca tinha pertencido a D. Gonçalo Rodrigues de Palmeira ou a seu filho D. Rui Gonçalves Pereira, mas sim a de Esmeriz.
Eu sei que dessa quinta de Pereira de Esmeriz foi senhor D. Rui Gonçalves de Pereira, D. Pedro Rodrigues de Pereira e os seus descendentes, como é referido nas inquirições de 1220 e 1258, mas isso não invalida que a quinta de Pereira de Bairro não lhes tivesse igualmente pertencido. Aliás, os Pereiras possuíram diversos bens, julgo que até mesmo igrejas, em muitas freguesias do antigo julgado de Vermoim: Sanfins, Esmeriz, Guardizela, Areias, Avidos, Sequeirô, Pousada de Saramagos e outras, ainda que se diga que a posse de alguns desses bens tenha resultado de abuso.
Em «Corografia Portuguesa», tomo I, página 332, o padre António Carvalho da Costa, escrevendo sobre S. Fins de Riba de Ave diz: «Aqui está a Quinta e Casa de Pereira, Solar desta ilustre família (...). Povoou-se na forma seguinte. Tanto que D. Gonçalo Rodrigues de Palmeira dotou aquele Couto e Casa ao Mosteiro de Landim, veio aqui fazer seu assento, por deixar aquele Couto livre aos Cónegos».
Manuel de Sousa da Silva (1649-1713) em «Nobiliário das Gerações de Entre-Douro-e-Minho» diz «na quinta de Pereira morou D. Rui Gonçalves Pereira, seu filho D. Pedro Rodrigues de Pereira, seu neto D. Gonçalo Pereira, seu bisneto D. Vasco Pereira; e a possuíram seus descendentes os senhores de Cabeceiras de Basto, por falta dos quais passou aos Almadas, que ao presente a logram». Deve acrescentar-se que o autor se referia à quinta de Pereira de Sanfins de Riba de Ave e não a outra com o mesmo nome, que as havia na Terra de Vermoim e em outros lugares. É que nas «Memórias Paroquiais de 1758» diz-se claramente que nessa data a quinta de Pereira de Sanfins pertencia a Gaspar Leite e a seu filho Joaquim Leite, ambos Almadas. A quinta de Pereira de Esmeriz nunca pertenceu aos Almadas.