José António da Silva (Zé Lino) - (1865-1937)
Nasceu a 23 de Março de 1865 no lugar da Estrada, da extinta freguesia de Santo Estêvão Fins de Riba de Ave, vulgarmente conhecida por Sanfins, filho de Lino José da Silva, pedreiro, e de Maria de Sousa, ele natural de Rebordões e ela de Sanfins, neto paterno de António José da Silva (1), jornaleiro, e de Joana Maria da Silva, da dita freguesia de Rebordões, e materno de Joaquim de Sousa, carpinteiro, e de Maria do Rosário (Cirne), conhecida por apenas Rosária, da dita freguesia de Sanfins. Foram padrinhos Vicente de Sousa, jornaleiro, e Rita Maria Carneiro, tios do baptizado. O auto foi assinado pelo padrinho e pelo abade da freguesia de Bairro, Dionísio José Barroso.
Casou em 23.04.1903, na igreja de S. Julião do Calendário, com Engrácia Ferreira da Silva. Ele de 38 anos, solteiro, pedreiro, natural de Bairro, filho de Lino José da Silva (2) e de Maria de Sousa; ela de 22 anos, solteira, fabricante, natural de Carreço, concelho de Viana do Castelo, filha de Manuel Martins de Almeida, pedreiro, natural da freguesia de S. Tiago de Cepões, concelho de Viseu, e de Ermelinda Ferreira da Silva Germano, jornaleira, natural de S. Romão de Coronado, neta paterna de avô incógnito e Ana de Almeida e materna de Manuel Ferreira Germano e Ana Maria da Silva Germano. Deste casamento houve os filhos seguintes: António (1904), Laurentina (1905), António (1907), Maria (1909), Joaquina (1911), Deolinda (1917), Jerónimo (1919), Rosa (1921) e Lino.
José António da Silva era conhecido por Zé Lino, devido ao facto de seu pai ter esse nome. Embora identificado como pedreiro no registo do seu casamento, mais tarde foi comerciante e mestre-pedreiro, actividade em que sucedeu a seu pai, que era conhecido em Bairro por Mestre Lino. O pai de Engrácia Ferreira da Silva, Manuel Martins de Almeida, que o mesmo registo indica como sendo pedreiro, noutros registos é tido como tecelão e parece que também terá sido assentador de carris dos caminhos de ferro, donde lhe teria vindo a alcunha de «Carrilhano». Aliás, o exercício dessa actividade poderá ajudar a explicar que os seus irmãos mais novos e a sua filha tenham nascido em Carreço - Viana do Castelo. Talvez a sua família se tenha fixado na localidade na altura da construção da via férrea, em que trabalharam, que chegou a Carreço em 1872. Só terão vindo para Bairro para colaborarem na construção da linha férrea da Trofa para Guimarães e Fafe, depois de 1881.
O casamento de José António Silva e Engrácia Ferreira da Silva teve lugar no Calendário por a família dele se opor à sua concretização, devido ao facto dela ser de condição social mais modesta. Por isso, sem dar conhecimento prévio a sua mãe (o pai já tinha falecido), José António tratou do assunto em segredo longe da freguesia e arranjou um padre que se dispusesse a celebrar o casamento. Só alguns dias depois, a notícia do casamento começou a espalhar-se e acabou por chegar aos ouvidos da mãe, Maria de Sousa, que já nada podia fazer para reverter a situação. Colocada assim perante um facto consumado, com maior ou menor relutância, não teve outro remédio senão aceitá-lo.
Como já ficou dito, Zé Lino deu continuidade à actividade económica exercida pelo seu pai e tornou-se mestre-pedreiro, ou como se diria agora, empresário da construção civil. Era um profissional competente e sério e, por isso, nunca lhe faltaram trabalhos para executar, desde modestas habitações até obras de maior envergadura como igrejas, fábricas, hotéis ou barragens. Do seu largo currículo constam obras como a central eléctrica de Caniços, as fábricas de Caniços, de Bairro ou de Mira-Ave, o bairro da Empresa Têxtil Eléctrica, os açudes das fábricas de Caniços e de Bairro, a casa da Quinta de Pereira ou a casa onde morou junto à estrada nacional 310, onde foi instalado o Correio em 1943. Construiu hotéis como o das Termas das Caldas da Saúde, o antigo hotel Cidnay, em Santo Tirso, o Hotel do Bom Jesus, em Braga e um outro em Vizela. Fez trabalhos na barragem do rio Varosa, nas proximidades de Lamego, e no Santuário da Senhora dos Remédios, na mesma cidade. Para executar todas estas obras, comandou uma grande quantidade de pedreiros e outros artífices. Dizem que chegou a ter ao seu serviço cerca de 200 homens, distribuídos por várias obras simultâneamente em curso.
Residiu na casa onde nasceu até perto de 1920, que agora é propriedade dos herdeiros de seu filho Jerónimo, onde ainda hoje vivem duas das suas netas, Alice e Lisete. Depois mudou-se para a casa que fica quase em frente à agora chamada Rua da Infância, construída entre 1909 e 1911, onde viveu até à data do seu falecimento. Aí fundou um estabelecimento comercial, uma mercearia e taberna, que tinha grande movimento. Basta dizer que quase todos os operários que empregava eram seus clientes. Aos sábados pagava-lhes a féria devida pelo trabalho realizado durante a semana, como era costume naquela época, mas grande parte do dinheiro que tinha dispendido voltava logo ao seu bolso pelas vendas que lhes tinha feito no decurso da mesma semana.
Era monárquico. Quando, em 19.01.1919, se implantou no Porto a chamada a Monarquia no Norte, certamente julgava que esse movimento ia vingar e mandou colocar nas suas casas grande cópia de bandeiras azuis e brancas, que eram as cores da bandeira portuguesa do tempo da monarquia, desde os alvores da nacionalidade até 5 de Outubro de 1910. Contudo, os revoltosos não conseguiram angariar suficiente apoio popular e o rei deposto, D. Manuel II, que estava exilado em Londres, também não lhes deu qualquer palavra de encorajamento. Forças republicanas sufocaram este movimento, que fracassou, e os seus mentores renderam-se 25 dias depois, em 13.02.1919.
Foi presidente da Junta de Freguesia de Bairro de Outubro de 1926 a Maio de 1927, logo a seguir ao golpe militar de 28 de Maio de 1926, que derrubou a república e o seu presidente Bernardino Machado, o que faz supor que seria partidário do movimento que conduziu à ditadura militar e ao chamado Estado Novo.
Notas:
(1) - António nasceu a 29.08.1773 no lugar do Rosadouro, Rebordões, filho de José António Joaquim e de sua mulher Gertrudes Maria da Silva, neto paterno de António Gomes e de sua mulher Luísa Maria, da Cordoaria, Porto, e materno de João Correia de Abreu (?) e de sua mulher Eugénia Francisca da Silva, do lugar da Fonte, Rebordões. Em 14.07.1822, casou com Joana Maria da Silva, ele já viúvo e ela filha de Manuel Gonçalves e de Ana Maria da Silva, de Rebordões. Antes, em 15.06.1801, tinha casado em primeiras núpcias com Ana Maria Alves, filha de Manuel José Alves e Quitéria Maria Carneiro.
O casamento de José António Joaquim com Gertrudes Maria da Silva teve lugar em Rebordões a 10.10.1767. No registo deste casamento afirma-se que os pais dele eram moradores na freguesia de Santo Ildefonso, Porto.
(2) - Em 07.02.1861, em Sanfins, casaram Lino José da Silva e Maria de Sousa. Ele de 36 anos, solteiro, natural de Rebordões, filho de António José da Silva, jornaleiro, e de Joana Maria da Silva, da dita freguesia, neto paterno de José António, da cidade do Porto, e de Gertrudes da Silva Gonçalves, de Rebordões, e materno de Manuel Gonçalves, jornaleiro, de Burgães, e de Ana Maria da Silva, de Rebordões; ela com a idade de 25 anos, de Sanfins, solteira, filha de Joaquim Vicente de Sousa, carpinteiro, e de Maria do Rosário, da mesma freguesia, neta paterna de António Vicente de Sousa, jornaleiro, e de Teresa da Costa Monteiro, e materna de Domingos Correia Duarte, da dita freguesia de Sanfins e de Dionísia Maria Cirne, natural de S. Mateus de Oliveira. Deste casamento houve pelo menos os filhos seguintes: Matilde (1862), António (1863), José (1865), Rita (1867), Manuel (1870), Joaquim (1872), Joaquim (1876) e Joaquina (1878).
Lino José da Silva faleceu em Bairro, no lugar da Estrada, onde morava, a 22.12.1896, com 71 anos de idade. Foi sepultado na igreja de Bairro na sepultura nº. 24.